quarta-feira, 26 de setembro de 2007

11 personalidades ilustres ligadas à literatura, às artes e às lutas democráticas na América Latina essa entre outras será uma das particularidades da Fliporto 2007 marcando a cultura e a história dos países latino-americanos com suas obras e feitos.

100 Centenário de Frida Kahlo

A pintora Frida Kahlo nasceu no dia seis de julho de 1907, no México. Com seis anos contraiu poliomielite, doença que a deixou com uma lesão no pé direito. Anos depois, quando já havia superado o fato de ser portadora de deficiência física, sofreu um acidente que lhe causou múltiplas fraturas, levando-a a passar por várias cirurgias e obrigando-lhe a um longo período de imobilidade. Durante sua convalescença, começou a pintar. Entre o primeiro auto-retrato, e a sua morte no dia 13 de julho de 1954, Kahlo produziu cerca de 200 quadros. Através de cores vibrantes, reproduziu principalmente seus dramas pessoais: a relação conturbada com o muralista Diego Rivera, o sofrimento, a destruição, a mutilação e a perda, que tanto marcaram sua vida. Ao ser questionada sobre um possível surrealismo de seus quadros, Frida dizia: “Nunca pintei sonhos, só pintei a minha própria realidade".

Consciente de sua importância enquanto figura pública, Frida Kahlo foi revolucionária, libertária e politicamente engajada na luta pela revolução comunista nas Américas. Admirava as idéias de Marx e Engels. Endeusava Lênin e recebeu Trotsky em sua casa, a Casa Azul, e com ele teve um caso amoroso. Frida Kalho tornou-se referência da força feminina. Com seu estilo único, ficou caracterizada por suas saias longas indígenas, seus cabelos penteados com torçais de lã de cores brilhantes ou com um toucado tlocoyal. Vaidosa, sempre enfeitava-se com anéis, colares e brincos de ouro, jadeíta, pérolas e conchas, muitos dos quais incorporavam símbolos e hieróglifos da cultura mexicana, em especial a Azteca. Entre suas obras destacam-se "Auto-retrato em um vestido de veludo" (1926), "retrato de Miguel N. Lira" (1927), "retrato de Alicia Galant" (1927),"retrato de minha irmã Christina" (1928),"A Coluna Partida" (1944), "O Camião" (1929), "Unos Quantos Piquetitos" (1935), "Hospital Henry Ford" (1932) e "Auto-Retrato com Macaco" (1945).

80 anos de Ariano Suassuna

Ariano Vilar Suassuna nasceu na então Cidade da Paraíba, atual João Pessoa, no dia 16 de junho de 1927, e aos 15 anos veio morar com a família no Recife, onde reside até hoje. Dramaturgo, romancista, poeta, ensaísta, defensor incansável da cultura popular, das raízes brasileiras e, especialmente, nordestinas, o paraibano/pernambucano Ariano Suassuna é considerado por muitos o maior prosador vivo da Literatura Brasileira. O escritor é formado em Direito e Filosofia, com doutorado em História, pela Universidade Federal de Pernambuco, onde foi professor por 32 anos e diretor do Departamento de Extensão Cultural. Com o amigo Hermilo Borba Filho, fundou o Teatro de Estudantes de Pernambuco. Sua obra mais famosa, “Auto da Compadecida”, já foi montada por vários grupos de teatro de todo o País, além de ter sido adaptada para a TV e cinema. Mas foi com as peças “Uma mulher vestida de sol” e “Auto de João da Cruz” que ganhou prêmios teatrais importantes.

Ariano Suassuna foi o idealizador do Movimento Armorial, que teve como objetivo criar uma arte erudita a partir de elementos da cultura popular do Nordeste Brasileiro. Tal movimento procura orientar para esse fim todas as formas de expressões artísticas: música, dança, literatura, artes plásticas, teatro, cinema, arquitetura, entre outras expressões. O escritor já teve obras traduzidas para inglês, francês, espanhol, alemão, holandês, italiano e polonês. É integrante da Academia Brasileira de Letras, na qual ocupa a cadeira 32. Na Academia Pernambucana de Letras tem assento na cadeira 18. Ariano Suassuna é hoje secretário de Cultura do Governo do Estado de Pernambuco.

80 anos de Gabriel García Márquez

Jornalista, editor e escritor, Gabriel José de la Concordia García Márquez nasceu na cidade de Aracataca, na Colômbia, no dia 6 de março de 1927. Cresceu ao lado de seus avôs maternos. Estudou num colégio jesuíta e posteriormente iniciou o curso de Direito, logo abandonado em virtude de seu trabalho como jornalista. Aos 27 anos foi para Roma, como correspondente do jornal onde escrevia, e desde então tem vivido em várias cidades a exemplo de Paris, Nova Iorque, Barcelona, Havana e Cidade do México, em uma espécie de exílio compulsório.

Escritor consagrado mundialmente, Gabriel García Márquez é conhecido pela peculiaridade da forma com que trata sua obra, definida como "realismo mágico" e que consiste em abordar feitos fantásticos do ponto de vista de determinadas culturas que os consideram normais. Em 1967, publicou seu livro mais aclamado, Cem anos desolidão, história que narra as vivências da família Buendía em Macondo, cidade fictícia. Maior sucesso do autor, traduzida em 35 idiomas e com venda calculada em mais de 30 milhões de exemplares, a obra é considerada uma grande referência do realismo mágico.

Em 1982, García Márquez ganhou o Prêmio Nobel de Literatura. O prêmio representou não apenas a sua consagração internacional, mas também a de toda a literatura americana em língua castelhana, que viveu um processo de expansão e reconhecimento na segunda metade do século XX. Um dos mais lidos e estimados escritores da América-latina, Gabriel García Márquez é hoje tão universal como os maiores mestres do romance moderno e está entre os nomes gloriosos da literatura.

O escritor é presidente do Conselho Editorial e um dos propietários da Revista Cambio, na Colômbia. Em 2002, publicou sua autobiografia intitulada Viver para contá-las, a qual os críticos classificaram como uma obra muito bem escrita, trazendo riqueza de detalhes. Apesar de seu talento como ficcionista e premiado escrito profissão de jornalista. Mas García Márquez é acima de tudo um escritor de esquerda, simpatizante do marxismo - amigo do presidente cubano Fidel Castro -, militante de causas sociais, enfim, um humanista engajado.

30 anos sem Clarice Lispector

Clarice Lispector nasceu na Ucrânia, em 1920, mas alguns anos depois, mudou-se para o Brasil com os pais e as duas irmãs instalando-se em Recife, onde passou grande parte da sua infância. Após a perda da mãe, foi morar com a família na cidade do Rio de Janeiro. Em 1942, escreveu seu primeiro romance, Perto do coração selvagem. Um ano depois, casou-se com o colega da faculdade de Direito, Maury Gurgel Valente, que pouco tempo depois ingressou na carreira diplomática e foi morar na Europa, com a escritora.

Nos textos de Clarice é constante a necessidade de questionar, de perguntar sobre a vida, sobre a morte, sobre o amor. Com uma escrita peculiar, abordava magnificamente os conflitos interiores, a solidão e a busca pela essência do humano, optando pela transcendência das palavras, pela construção além do entendimento lógico, para o campo do desejo, do ser, do sentir. Conhecida por escrever suas obras e não mais lê-las após publicá-las, acreditava que à medida que criava e transformava seus textos esses permaneciam vivos e faziam sentido para si. Uma vez finalizada, eram obras mortas. Faleceu em 1977, um dia antes do seu 57° aniversário, vitimada por uma súbita obstrução intestinal, de origem desconhecida que, depois, veio-se a saber, ter sido motivada por um adenocarcinoma (Câncer) de ovário irreversível.

Nélida Piñon o presumível coração da América

Nélida Piñon nasceu em 1937, no Rio de Janeiro. Sua família é originária da Galiza, vivendo no Brasil desde 1920. Fato este importante de ser lembrado, já que em sua obra é constante o amor não só pelo Brasil, mas também pela Galiza. Nélida é jornalista, romancista, contista, professora universitária no Brasil e no exterior. Tem obras, publicadas em mais de 20 países e traduzidas para dez idiomas, além de ter recebido vários prêmios literários nacionais e internacionais, entre eles o Prêmio Internacional de Literatura Juan Rulfo, o mais importante da América Latina e do Caribe, concedido pela primeira vez a uma mulher e a um autor de língua portuguesa, em 1995. Foi a primeira mulher a presidir a Academia Brasileira de Letras, ocupando hoje a cadeira de número 30, pertencente anteriormente a Aurélio Buarque de Holanda. Sua estréia na literatura foi com o romance Guia-mapa de Gabriel

Arcanjo, de 1961, que trata do tema do pecado, do perdão e da relação dos mortais com Deus, através do diálogo entre a protagonista e seu anjo da guarda. Seus trabalhos são caracterizados pela defesa aos direitos humanos, especialmente aos das mulheres, sendo bastante consciente do seu papel de escritora enquanto ser social, político e cultural, trazendo à tona a reflexão, para seus leitores, sobre a realidade do País. Nélida Piñon possui prosas ricas em registros, que promovem uma releitura das distintas tradições e raízes culturais do continente.

Abreu e Lima e a América Latina

Nascido no Recife, no dia seis de março de 1794, José Inácio de Abreu e Lima foi um militar, político, jornalista e escritor. Mesmo sendo brasileiro, participou com destaque das guerras de independência da América espanhola. Devido a isso, é conhecido com maior notoriedade como general Abreu e Lima por ter sido um dos generais de Simón Bolívar, um dos principais líderes pela libertação da América espanhola. Abreu e Lima saiu do Brasil, após a execução de seu pai, o Padre Roma (ex-sacerdote que abandonou a batina para casar-se), devido ao seu envolvimento na Revolução Pernambucana. Naquela época, as ordens de Portugal não limitavam suas punições aos réus de crime de lesa-majestade, mas impunham-nas até a segunda geração.

O então jovem militar incorporou-se ao exército de Bolívar, com a patente de capitão, e participou das batalhas decisivas pela libertação da Venezuela e Colômbia. Considerado um dos heróis da independência da Venezuela, ele tem maior reconhecimento nesse país do que no Brasil. Com a morte de Bolívar, e o não reconhecimento de sua patente pelo governo do general Santander, que o sucedeu, abandonou a Colômbia. Esteve nos Estados Unidos, na Europa e, em seguida, retornou ao Brasil, fixando residência no Rio de Janeiro.

Historicamente, Abreu e Lima é uma figura complexa. Mesmo tendo participado ativamente do movimento comandado por Bolívar (de base republicana), ao voltar para o Brasil foi um forte defensor da monarquia. Retornando a Pernambuco, foi preso sob a acusação de envolvimento na Revolta Praieira. Libertado, dedicou-se apenas à literatura ensaísta, defendendo idéias inspiradas no socialismo utópico francês. Publicou, entre outros, os livros "Compêndio de História do Brasil" e "O Socialismo". Também colaborou em vários jornais pernambucanos, entre os quais Diario de Pernambuco, Diário Novo e Bade São Pedro. O general Abreu e Lima morreu no dia oito de março de 1869, no Recife.

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